v. 2 n. 3 (2019): Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades

A proposta interdisciplinar apresenta como principal vantagem a possibilidade de pensar e entender o mundo na sua totalidade. Ela promove uma verdadeira ampliação da visão dos fenômenos e acontecimentos, uma mundividência que derruba as barreiras das disciplinas, das áreas de conhecimento, das teorias enclausuradas em seus pequenos nichos de saber. Despreza preconceitos, invade territórios, cria caminhos. Neste novo número de Veredas – revista interdisciplinar de humanidades, muitos caminhos interdisciplinares serão postos – de Artes à Memória, de Política à Psicologia, de Direito à Educação.

No artigo de abertura, temos a honra de apresentar para nosso público leitor o professor e pesquisador português Sérgio Guimarães de Sousa, da Universidade do Minho – Portugal. Em “A utopia dos realistas – sobre A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, de José Agualusa”, o autor analisa o texto, recentemente lançado,  desse importante escritor angolano, que cria uma sátira política com a intenção de nos revelar a força dos sonhos por trás de uma realidade dura e sem perspectivas de um povo subjugado pela ditadura. O sonho metaforizado funciona na narrativa como concretização dos ideais de liberdade, mas seu desfecho joga novamente os expectantes para a realidade como saídos de um delírio coletivo.

Na sequência, Jussara Parada Amed, em seu artigo “Recepção das obras de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) na Primeira República”, apresenta-nos a escritora, que foi uma das primeiras mulheres brasileiras a se dedicar à educação e à literatura, demonstrando uma sensibilidade e refinamento incomuns nesse período histórico. Além de romancista, poetisa, autora de peças teatrais e de livros de literatura infantil, Júlia Lopes de Almeida também contribuiu para a discussão sobre educação no país em artigos jornalísticos. Uma das idealizadoras da Academia brasileira de letras, a autora deixou uma vasta obra que com maestria são analisadas neste artigo.

O terceiro artigo, temos um texto sobre o ícone de Santo Amaro – a estátua de Borba Gato. Márcia Maria da Graça Costa e Alzira Lobo de Arruda Campos, em “A estátua de Borba Gato: memória e identidade de Santo Amaro”,apresenta uma reflexão sobre a memória histórica do monumento e a identidade de um bairro. A complexa relação entre passado e presente descortina-se por meio da análise do simbolismo do patrimônio histórico-cultural.

Em “Avaliação psicológica nos processos de alienação parental”, de Denise Maria Perissini da Silva, temos o estudo dos aspectos da avaliação psicológica em casos de alienação parental e a delicada posição do psicólogo frente às dificuldades impostas por um sistema falho que leva à alienação e à inevitávelinvisibilidade desses sujeitos nos processos judiciais. A história da lepra e as práticas de cura desse mal no município de Bragança (PA) no início do século XX é o assunto do quinto artigo. Fazendo uso de jornais e documentos oficiais do Arquivo público municipal dessa cidade, os autores vão desvendando gradativamente os costumes, a ideologia higienista e a procura de cura dessa doença tão carregada de conotação negativa.

“Sobre óleos, sabonetes e asilos: história do combate à lepra em Bragança (PA) no início do século”, de Érico Silva Muniz e Patrícia Oliveira Linhares, além da crítica de costumes, apresenta os recursos medicinais embasados em práticas de isolamento dos doentes em asilos e a utilização de plantas e ervas da região amazônica.

O sexto artigo do número 3 da Revista Veredas é de autoria Ilzver de Matos Oliveira, Alberto Hora Mendonça Filho e Pedro Meneses Feitosa Neto. “Ensino religioso confessional: política pública contra a intolerância religiosa? Dissonâncias entre a constituição cidadã e o Supremo Tribunal Federal”. A história das religiões, segundo os autores, entremeia a vida humana na terra e foi permeada por conflitos dos quais resultam discriminações e dominações. Em vista a isso, o secularismo marcou a cisão entre o Estado e a Igreja, com o intuito de assegurar, ainda que formalmente, a laicidade, de modo a alocar a religião no âmbito privado. Entretanto, segundo os autores, a secularização não obteve o êxito material, na medida em que se avista a interferência das religiões majoritárias no mundo moderno, o que é preocupante, sobretudo em virtude dos efeitos nocivos do fundamentalismo no mundo moderno.

 Juliana de Almeida Martins Goiz é a autora do sétimo artigo de Veredas. Em seu “A educação para as relações étnico raciais sob a perspectiva da interdisciplinaridade”, ela discute a importância da Lei 10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura da África e dos afro-brasileiros no ensino público e privado, e do trabalho interdisciplinar que esse tema requer. Num país plural, como o caso do Brasil, esse é um debate imprescindível e urgente, para o entendimento de nossa realidade e identidade como povo e como nação. Assunto premente e necessário, a questão da mulher e de seu papel na sociedade iniciou-se no século XIX, e continua em pauta.

Isabela Candeloro Campoi e Bruna Letícia da Silva Massuia, autoras de “A educação feminina no livro A vindication of the right of woman, de Mary Wollstonecraft (1792)”, fazem um interessante debate sobre a educação de mulheres, nesta que foi uma das principais obras em defesa dos direitos da mulher de sua época, a ponto de sua autora ser considerada fundadora do feminismo moderno. Expondo com elegância e coragem seu ponto de vista e mundividência, a escritora põe a nu as dificuldades e o descaso pela educação feminina, num mundo totalmente dominado pelo homem. O texto ainda se presta à discussão dos problemas contemporâneos relacionados à questão de gênero. Esperamos que o leitor desfrute dessas discussões e tenha bons momentos de reflexão.

Equipe editorial

Rafael Lopes de Sousa

Paulo Fernando Souza Campos

Eliane de Alcântara Teixeira

Publicado: 2019-07-04