v. 3 n. 6 (2020): Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades

Prezados leitores,

A Revista Acadêmica Veredas é um periódico eletrônico, de caráter multidisciplinar, dedicado à pesquisa, ao debate e à construção do conhecimento por meio da publicação de artigos científicos produzidos, não só por docentes das diversas linhas de pesquisa do Mestrado Interdisciplinar de Ciências Humanas (MICH) da Universidade Santo Amaro (UNISA), mas também por pesquisadores de quaisquer outras áreas que, de alguma forma, busquem um diálogo interdisciplinar com os dramas e angústias dos homens e mulheres que compartilham as experiências da hipermodernidade. Publica artigos e ensaios de pesquisadores brasileiros e estrangeiros funcionando, assim, como espaço para um fértil diálogo e debate de ideias entre as diversas áreas do conhecimento acadêmico nacional e internacional. Está, portanto, aberta a contribuições e abordagens que envolvem as diversas facetas da sociedade contemporânea, desde que de alguma forma, dialoguem com o universo teórico multidisciplinar. Ainda no âmbito deste projeto, a Veredas propõe-se a publicar, também, resumos de dissertações de mestrado bem como de teses de doutorado.  Em seu número 6, do ano III, Veredas traz dez artigos e cinco resumos de diversas áreas do conhecimento, elaborados por pesquisadores de diferentes universidades do Brasil. Abrindo este número em “Cantigas que embalam a infância no Brasil e em Cabo Verde”, Avani Souza Silva mostra-nos a importância da música na aprendizagem infantil no Brasil e em Cabo Verde. Amparada pelo arcabouço teórico de Stuart Hall, a autora busca compreender como cantigas de ninar e cantigas de roda, estas cabo-verdianas e aquelas brasileiras, contribuíram para a construção da identidade cultural nesses territórios. No segundo artigo, “Educação indígena e direitos humanos racismo e sub-representação na educação em MS” Antonio Hilario Aguilera Urquiza e Evanir Gomes dos Santos analisam a aplicação da educação indígena no território de Mato Grosso do Sul. Os autores realizam uma revisão bibliográfica do tema e dialogam com a Declaração das Nações Unidas e da legislação nacional referente à educação indígena, pós-Constituição Federal de 1988. O texto lança luz sobre os descaminhos da educação indígena. De suas linhas pode-se depreender que, apesar das garantias constitucionais, os estudantes indígenas permanecem em situação precária, sofrendo, inclusive, com práticas de discriminação, preconceito e racismo institucional. Na continuidade, em “Hábitos alimentares e de higiene oral dos índios de Roraima e sua relação com a condição bucal”, Caio Vinicius G. Roman Torres, Debora Pallos e Richardson Mondego Boaventura discutem os resultados de uma pesquisa de saúde bucal em comunidades indígenas do Estado de Roraima. O estudo questiona a invisibilidade epidemiológica dos poucos trabalhos publicados sobre o tema. Seus autores perscrutam igualmente, os entraves socioeconômicos e socioculturais para o uso do creme dental e escova na higienização oral das comunidades indígenas, sem esquecer, todavia, que algumas etnias realizam a higienização oral de modo alternativo utilizando-se de elementos da natureza. No que tange a liberdade de culto, o estudo “O ecoar dos atabaques no Direito Internacional dos Direitos Humanos: aportes sobre a proteção da liberdade afrorreligiosa”, de Pedro Meneses Feitosa Neto e Ilzver de Matos Oliveira, analisa os pontos de convergência entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o direito interno brasileiro. A investigação questiona qual desses direitos mostra-se mais emancipatório para os afrorreligiosos, principalmente nos embates com a colonialidade e com os privilégios obtidos historicamente pelas religiões majoritárias. O intuito, com esse estudo, consiste em evidenciar a necessidade da reinterpretação do direito a partir de uma perspectiva dos povos tradicionais de terreiro. Assim, de objetos dos discursos dos direitos humanos os adeptos dessas religiões podem se converter em sujeitos de direitos. Quanto à abordagem gênero no âmbito educacional, o artigo “As Políticas Educacionais em gênero na perspectiva da Pedagogia do Oprimido”, escrito por Maíra Souto Maior Kerstenetzky e Waldênia Leão Carvalho, debate os processos de empoderamento das mulheres a partir dos ensinamentos freireanos no escrito Pedagogia do Oprimido. O ponto de partida das autoras é a onda conservadora que atingiu o país a partir de 2014 e fez recuar as políticas educacionais em relação à temática de gênero. Investigam as origens educacionais da política de gênero e daí retiram argumentos para perquirir o modelo educacional uniforme, que nega as diversidades de experiências e de vivências humanas. Em seguida, em “Educação e complexidade em tempo de cultura digital”, retoma-se o tema da educação, com Nize Maria Campos Pellanda, Maria de Fátima de Lima das Chagas e Rafael Sbeghen Hoff. As autoras discorrem sobre a educação, problematizando-a na perspectiva do ensino e da aprendizagem tensionada pelos algoritmos e pelo acoplamento tecnológico proposto em uma cultura cada vez mais digital. Discutem alternativas de emancipação do sujeito para além das programações previstas pelos dispositivos tecnológicos. Pretendem, com isso, encontrar práticas didático-pedagógicas de “subversão” com vistas à autonomia dos sujeitos educandos. Em “Aspectos do projeto de arquitetura na Grécia Antiga: “estado da arte”, Claudio Walter Gomez Duarte e Artur Simões Rozestraten apresentam uma leitura do ‘estado da arte’ sobre as peculiaridades do desenho de arquitetura grega, construindo, assim, uma perspectiva sobre as descobertas recentes e o histórico de aproximações científicas aos conhecidos desenhos. Em suas análises, utilizam-se de elementos complementares ao desenho, como osyngraphé e o parádeigma, bem como o testemunho de Vitrúvio. Buscam, com essa revisão, entender e redimensionar os aspectos técnicos específicos da arquitetura monumental grega. Em “Patrimônio Cultural, Arqueologia Pública e Educação Patrimonial: multivocalidade e interdisciplinaridade”, Juliana Figueira da Hora e Vagner Carvalheiro Porto apresentam as correlações de Patrimônio Cultural com a Arqueologia Pública, inventariando aspectos das leis que regem o Patrimônio no Brasil e no mundo e problematizando as questões relativas à interdisciplinaridade e à multivocalidade da Arqueologia Pública. Conforme análise, a Educação Patrimonial busca mostrar à população a importância da valorização de seu patrimônio, bem como conscientizar os sujeitos envolvidos na valoração e na preservação de sua identidade e memória cultural. O artigo “Qualidade da Educação Infantil Pública: uma pesquisa exploratória das Políticas Públicas para sua efetividade no Município de São Paulo”, Heloisa Candia Hollnagel, Maria Euma Soares e Crislane Santos Silva discutem o avanço da legislação no que tange a Educação Infantil. O estudo está focalizado na análise qualificada da sua oferta, sobretudo, para o município de São Paulo, no que diz respeito às Políticas Públicas de Qualidade para Educação Infantil. As autoras discutem aspectos da legislação e o que, de fato, vem sendo feito para a melhoria das políticas públicas no âmbito educacional. Buscam, pois, entender os padrões básicos de qualidade desse segmento da educação paulistana, bem seus indicadores de qualidade, dando ênfase aos desafios de sua aplicabilidade. Na sequência, em “Limites jurídicos da proteção da propriedade no setor farmacêutico”, Marcelo Salles da Silva, Marcio Luiz dos Santos  e Artur Eduardo Alves de Castro  tecem uma análise dos direitos de propriedade decorrentes da concessão de patente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Investigam, sobretudo, a possibilidade de aplicação compulsória da quebra de patente sobre fármacos. Trata-se de pesquisa exploratória e explicativa, de natureza qualitativa, que adota o método de revisão bibliográfica e análise documental. Concluem que a quebra de patente ou o licenciamento compulsório de produtos farmacêuticos não exclui o direito de propriedade do inventor, mas traz evidente prevalência do interesse público sobre o interesse patrimonial privado, primando, assim, pela saúde e pela vida em consonância com as diretrizes dos Direitos Humanos. Por fim, esta edição apresenta ao público leitor cinco resumos de dissertações de alunos do Mestrado Interdisciplinar de Ciências Humanas da Universidade Santo Amaro (MICH/UNISA). Abrimos a seção de resumos com a dissertação, “Desafios do ensino bilíngue na construção de uma educação intercultural: o livro didático em questão”, de Talita Destro Rost aborda a importância de serem traçadas políticas públicas de educação para construir sentidos democráticos ao abordar a língua inglesa. Com uma metodologia apoiada na interdisciplinaridade, o trabalho tem como a análise do livro didático Way to English for Brazilian Learners nos quatro níveis do ensino fundamental II. Em sequência, temos a dissertação de mestrado, “A Reforma Trabalhista, retrocesso histórico e social: impactos na categoria bancária”, de André Fabiano Watanabe. Nesta pesquisa, o autor investiga as alterações promovidas pela Lei 13.467/2017, da chamada de Reforma Trabalhista, anunciada como necessária para modernizar os direitos dos trabalhadores e gerar mais empregos. Problematiza os aspectos históricos e sociais da Constituição Federal e os limites que esta impõe para alterações legislativas e de direitos. O autor faz uso de ampla pesquisa bibliográfica e de fontes primárias, como jornais em uma abordagem de cunho interdisciplinar. O terceiro resumo “Memória e esquecimento: a exclusão de Minas Novas da Estrada Real Mineira”, de Alice Ferreira Silva, é um estudo que busca compreender as razões do esquecimento da cidade de Minas Novas no Alto Jequitinhonha, como parte do caminho da Estrada Real Mineira. Utilizando-se do método de análise comparativa e interdisciplinar, a pesquisa problematiza os mapas elaborados por Padres Matemáticos e edificações históricas presentes nas cidades. Busca, com este método de trabalho, identificar, comparar e expor os contextos que evidenciam a memória e o esquecimento da cidade como parte da Estrada Real. Em “O lúdico e as inteligências múltiplas no ensino da Língua Inglesa: uma análise interdisciplinar da Coleção Way toEnglish” de Lilian Fernandes Carneiro, a autora investiga a abordagem do lúdico no ensino de língua estrangeira, para estudantes do Ensino Fundamental II. Tem por finalidade identificar o benefício que a experiência do jogo proporciona na aquisição do conhecimento e a efetividade no aprimoramento do ensino-aprendizagem de maneira inclusiva e interdisciplinar. Realizou-se uma pesquisa de natureza exploratória, quanto aos fins, e bibliográfica, quanto aos procedimentos. A autora analisou a coleção Way to English, da Editora Ática, que consta do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) referente ao triênio 2017, 2018 e 2019. Os resultados obtidos demonstraram que, dentre as várias técnicas disponíveis para o ensino da língua inglesa, a ludicidade tem sua importância no desenvolvimento do aprendizado. O último resumo, “Memória e cultura material: Cemitério Campo da Saudade, Município de Couto Magalhães”, a mestranda Juliana Maria Martins, analisa os possíveis fenômenos sociais e mentais que contribuem para a formação das variações tumulares, no contexto do Cemitério Campo da Saudade. O estudo foi desenvolvido de maneira interdisciplinar estabelecendo diálogo com o universo teórico da Filosofia, História e Antropologia. Seu interesse é o de compreender os padrões e demarcações dos enterramentos, ou maneiras específicas de organização dos corpos inseridos no cemitério Campo da Saudade em Porto Franco do Araguaia, distrito do município de Couto de Magalhães (TO).

Ao final dessa jornada, desse ano pandêmico, desejamos, enfim, que todos e todas estejam bem. Esperamos igualmente que os artigos e resumos desta edição fomentem o debate e contribuam para a formação de um pensamento crítico capaz de ampliar a nossa compreensão sobre as vicissitudes do tempo presente.

Uma boa leitura!

Rafael Lopes de Sousa

Editor Chefe

Publicado: 2020-12-03

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