Edições anteriores

  • VEREDAS - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 6 n. 12 (2023)

    Somos seres de relação. É por meio da interação entre indivíduos que se constituem as sociedades e as culturas. Cada cultura, como um repertório simbólico de experiências materiais e imateriais, revela seu capital singular de saberes, fazeres, normas, crenças, costumes, ideias, valores, narrativas, ves-timentas, culinárias, transmitidos de geração em geração e capazes de identi-ficar e caracterizar os diferentes grupos sociais. Nesse sentido, a diversidade envolve as múltiplas dimensões constitutivas de todo o tecido social.
    No contexto contemporâneo, com a globalização e as transformações operadas pela revolução digital, que, de alguma forma, borraram as fronteiras, não só territoriais, mas também subjetivas, a afirmação das identidades tornou-se premente. Notadamente, em sociedades marcadas pelo colonialismo e pelos processos de exclusão, grupos e indivíduos intensificam sua luta pela afirmação de identidades étnicas, raciais, culturais ou religiosas.
    Esta edição da Revista Veredas traz um conjunto de artigos de deman-da contínua, que lança luzes para se compreender essa complexa situação.

  • VEREDAS - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 6 n. 11 (2023)

    Estimados leitores,

    É com imensa honra que compartilhamos esta nova edição da Revista Veredas, construindo espaço para reflexões sobre variados temas e em diferentes pontos de vista. É essencial reconhecermos que a excelência científica não é alcançada pelo acúmulo de conhecimento, mas por seu intercâmbio, pelo movimento dialógico que o engendra. Ao avançamos no terreno fértil da ciência, compreendemos que nosso propósito não é tão somente buscar respostas, mas elaborar perguntas e nesse permanente e profícuo movimento de indagação, expandimos as fronteiras do conhecimento humano.

    Os artigos apresentados nesta edição, todos advindos de demanda contínua, abrangem uma ampla gama de saberes que se tocam interdisciplinarmente.  Os primeiros textos colocam em evidência um assunto bastante proeminente no atual contexto das Ciências Humanas: os protagonismos.

    As temáticas urgentes e emergentes apresentadas e discutidas nos artigos e resumos desta edição reafirmam nosso compromisso com uma perspectiva crítica sobre os fenômenos das Ciências Humanas alinhada com o gesto dialogal que a interdisciplinaridade reclama.

    Concluímos mais uma edição da Revista Veredas, não nos esquecendo de expressar gratidão a todos aqueles que contribuíram para tornar isso possível: aos autores, que se empenharam para trazer significativas abordagens sobre suas temáticas investigativas; aos avaliadores, que colaboraram para assegurar qualidade aos artigos; à equipe técnica, que possibilitou compartilhar, ideias inovadoras; aos leitores, que enriquecem de sentidos esse intercâmbio e sustentam a busca permanente pelo conhecimento.

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 5 n. 10 (2022)

    Vivemos tempos estranhos, dominados por incertezas políticas, torniquetes econômicos, perda de identidade. Tempos avessos, miseravelmente avessos às diversidades culturais, religiosas, ao saber científico. O historiador, atento a sinais, indica situações semelhantes, no decorrer da biografia humana. O século XX, marcado por mudanças estruturais profundas, materiais e espirituais, herdou teorias que procuravam explicar, por vieses distintos, o universo de relações, isto é, a sociedade, marcada por desigualdades extremas entre donos do poder e estratos sociais vulneráveis. No prisma revolucionário, o Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels, de 1848, deu origem a obras seminais para a explicação da dialética de luta de classe – o proletariado – como o motor da História. Do ponto de vista contemporizador, a exploração irrestrita do trabalho pelo capital, responsável pela miséria popular, sensibilizou o papa Leão III, que lançou a encíclica Rerum novarum, em 1891, apontando para a responsabilidade espiritual dos ricos para eliminar a miséria popular. Nessa linha, a ganância por lucros é tratada como um pecado capital, deslocando a exploração dos trabalhadores para o campo moral e ético do socialismo cristão, campo que se fortaleceu com o Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, em 1961, e concluído quatro anos depois, já sob o papado de Paulo VI. Esse concílio assinalou a responsabilidade da Igreja pela vida não apenas espiritual, mas também material, dos pobres. Em 1995, o Papa João Paulo II classificou o Concílio Vaticano II como "um momento de reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo", acrescentando que essa "reflexão global" impelia a Igreja "a uma fidelidade cada vez maior ao seu Senhor”, por meio de um impulso originado também das grandes mudanças do mundo contemporâneo, que, como “sinais dos tempos”, exigiam ser decifradas à luz da “Palavra de Deus”. De modo amplo, outras doutrinas se juntaram a esse tronco, discutindo de modo constante as relações sociais, do ponto de vista das elites ou do povo humilde, o qual, de uma forma ou outra, transformou-se em protagonista da história, ocupando lugar central no palco em que se desenrola o drama da espécie humana, agora envolvida com os demais seres e coisas do universo. Uma das maiores inovações ocorridas nesse campo do conhecimento foi a concessão do lugar de fala ao povo “miúdo”, eliminando epistemas antagônicos sobre a cultura sábia e a cultura popular. Nessa área, o cancioneiro popular brasileiro captou sentimentos de fratura, retratando angústias cotidianas da população. Assim, os tempos obscuros do regime militar são retratados em versos inumeráveis, como cantou Chico Buarque de Holanda, em Rosa dos Ventos, no ano de 1970: “[...] E na gente deu o hábito/De caminhar pelas trevas/De murmurar entre as pregas/De tirar leite das pedras/De ver o tempo correr [...]”. Mas, as trevas não poderiam durar para sempre: com entusiasmo e esperança, é conclamado o levante da invisível, porém, indômita multidão de anônimos, no verso adiante transcrito: “[...] Numa enchente amazônica/ Numa explosão atlântica/ E a multidão vendo em pânico/ E a multidão vendo atônita/ Ainda que tarde/ O seu despertar”. Munida com esse sentimento de otimismo e alegria, uma multidão de anônimos, estoicamente disciplinada, compareceu ao pleito eleitoral de 30 de outubro de 2022 e, silenciosa e pacificamente, expulsou a amargura e o ódio que teimavam em pautar o debate político da nação brasileira. A expressar esse sentimento, esta edição de Veredas apresenta textos que abrem possibilidades para se repensar caminhos pluralistas para a reconstrução do novo Brasil, escolhido democraticamente pelos votos inseridos nas urnas, em 30 de outubro de 2022. Os textos tratam dos mais diversificados e candentes temas desta quadra da história: a condição dos quilombolas, no território nacional; as agressões reiteradas praticadas por homens contra mulheres, reproduzindo o poder androcrático no espaço privado e no espaço público; o catolicismo e suas memórias, na perspectiva psicanalítica; a atualidade da justiça de transição, pelas lentes da literatura, inserta na obra “K., o relato de uma busca”, de Bernardo Kucinski; o questionamento das relações de poder, nas diversas formas de representação e de discursos que buscam definir as identidades da “População em Situação de Rua”. A esse elenco de narrativas, somam-se outras reflexões: dilemas éticos enfrentados por profissionais que atuam no contexto da violência de gênero, em Portugal; o uso da Inteligência Artificial, em uma perspectiva jurídica, sobre o desenvolvimento de patentes; as consequências das rotas comerciais dos aviões franceses na região de Natal do Rio Grande do Norte, nas décadas de 1920 e 1930; e, ainda, práticas culturais próprias da metrópole, com destaque concedido às culturas urbanas que se manifestam nos espaços públicos. Aos artigos, Veredas acrescenta dois resumos de dissertações de mestrado. O primeiro resulta de uma pesquisa qualitativa sobre a prática de um Conselho Municipal, integrante da política pública de Assistência Social, no município de Prudentópolis (PR). O segundo analisa a emergência da mulher no discurso médico, durante a Era Vargas (1930 a 1945), refletindo a respeito das influências possíveis desse discurso na construção de elementos de normalidade ou anormalidade do feminino, por meio de proposições sobre eugenia, organicismo e biodeterminismo, elementos teóricos chamados a corroborar posições ideológicas sobre a construção da saúde mental feminina.  

    São Paulo, novembro, de 2022.

    Rafael Lopes de Sousa,

    Editor de Veredas e docente do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH da Universidade Santo Amaro (UNISA)

    Alzira Lobo de Arruda Campos,

    Docente do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH da Universidade Santo Amaro (UNISA)

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 5 n. 9 (2022)

    Prezados leitores,

    É com muita satisfação que apresentamos esta edição da Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades -, com o intuito de construir um espaço profícuo para reflexões sobre temas relevantes das Ciências Humanas. A edição apresenta textos que abrem possibilidades de tecermos respostas para problemáticas candentes em nosso tempo, tais como a pandemia da covid-19, potenciais de inovação na educação, identidades, novos conceitos de família, desafios da inclusão, importância do reconhecimento de patrimônios materiais e imateriais.
    O primeiro artigo “Notas comunicativas de uma liderança do clã “lagarta”, dos indígenas Sateré-Mawé/AM, sobre a covid-19”, de Renan Albuquerque e Flávia Roberta Busarello, apresenta, a partir de diálogo com liderança indígena da Amazônia Central e de estudo qualitativo, interpretações sobre a pandemia. Constata-se que, apesar da inoperância do Estado brasileiro, revela-se uma estratégia própria de mitigação à covid-19, o que torna clara a autonomia e o poder de decisão dos povos originários amazônicos.
    O segundo trabalho, “Perfil empreendedor do graduando em Biotecnologia: uma revisão integrativa”, autoria de Haroldo Ferreira Araujo e Marcio Luiz dos Santos, enfatiza a relevância das instituições de ensino e centros de pesquisa como atores no processo de inovação e de formação de mão-de-obra, contribuindo para o desenvolvimento conjunto com empresas e instituições.
    O texto subsequente, “O Lugar na constituição do sujeito educador ambiental”, de Sabrina Meirelles Macedo, Narjara Mendes Garcia, Cláudia da Silva Cousin, traz reflexões sobre a relevância do Lugar como elemento constitutivo dos sujeitos em seus processos de construção das identidades e na constituição de experiências educativas ambientalmente sustentáveis.
    O estudo “Ensino de matemática e a formação cidadã na cidade de Quelimane-moçambique”, de Mirian Célia Castellain Guebert e Luis Cinecio Ramiirez Tang, em uma abordagem qualitativa pautada em análise de conteúdo, mostra a contribuição do ensino de Matemática para a formação cidadã de alunos da 7ª classe na cidade de Quelimane. Sustenta que as limitações das práticas interdisciplinares com vistas à formação do cidadão demandam a atuação do professor na educação básica como possibilidade de acesso aos direitos fundamentais.
    O artigo subsequente, “O fenômeno da imigração e as barreiras da linguagem em Não foi fácil, de Jose Clemente Pozenato”, produzido por Francisco Pereira Smith Júnior e Luane Oliveira Sales, analisa a obra de Pozenato (2002), cuja temática é a migração italiana para o Sul do Brasil, pontuando, a partir dos instrumentais da análise do discurso, fenômenos, como o discurso ideológico e político; a ideia de o imigrante ser um desterritorializado e de viver na condição de subalterno; o choque cultural e linguístico, bem como temas voltados à identidade e ao hibridismo.
    “Da criminalização à patrimônio cultural: uma análise da história da capoeira no Brasil”, de Luiz Fernando Carneiro Guimarães, Eugénia da Luz Silva Foster e Elivaldo Serrão Custódio, aponta interessante discussão sobre a trajetória da Capoeira desde a diáspora africana até os dias atuais. A pesquisa de caráter historiográfico compreende a Capoeira como uma expressão afro-brasileira marcada, principalmente, por sua africanidade, corporeidade multidimensionalidade, historicidade e (i)legalidade, o que influenciou para que ela fosse levada da criminalização pelo Código Penal em 1890 a patrimônio cultural imaterial da humanidade pela UNESCO em 2014.
    Subsequentemente, o artigo “Fundamentos epistemológicos da ‘família em processo de mudança’ na sociedade contemporânea: conceitos e características”, de Fernando de Almeida Silva e Rafael Cerqueira Fornasier, revisa o universo de significados e características que constituem a tessitura conceitual de família, as mudanças socioculturais que a afetaram e a jurisprudência dos novos arranjos no Brasil, estabelecendo, como itinerário metodológico, a visão bioecológica de Urie Bronfenbrenner, ecopsicológica de M. Petzold e relacional de Pierpaolo Donati.
    O artigo “Instituições de Educação Superior: entre a racionalidade substantiva e a econômica, de Sergio Marcus Nogueira Tavares, põe em relevo os novos tipos organizacionais que passaram a ocupar o campo da Educação a partir das reformas realizadas no Ensino Superior na década de 1990.Com a possibilidade de operação de instituições com finalidade lucrativa, o setor passa a atuar sob a égide de duas racionalidades distintas, segundo a teoria weberiana, uma substantiva, voltada a princípios ético-valorativos e outra, formal ou econômica. A partir dessa exploração teórica, compreende-se a nova dinâmica empreendida de governança no setor privado, destacando alguns aspectos e conflitos vivenciados que a qualificam nesse quadro que se estabelece.
    O texto “Capacitação para a compreensão do Transtorno do Espectro Autista: público-alvo e seus interesses, de Rosangela Pereira, Lucelmo Lacerda e Eliane Alcântara Teixeira, aborda o Transtorno do Espectro Autista, uma condição que traz fortes desafios para as práticas inclusivas, entre os quais a formação para a compreensão do fenômeno. Parte-se da pergunta: “Quem é o contingente participante de cursos de formação sobre autismo e por que motivações? ” Com metodologia quantitativa, a partir de questionário aplicado a trezentos e nove participantes da cidade de São Sebastião-SP, a pesquisa aponta deficiência nos currículos universitários e das redes de ensino nessas formações.
    Finalizando a coletânea de artigos, o texto “Retratos do Patrimônio Arquitetônico Neoclássico Brasileiro: a Casa de Frontaria Azulejada de Santos e proximidades visuais”, de Claudio Walter Gomez Duarte, Juliana Figueira da Hora e Marília Gomes Ghizzi Godoy, retrata a Casa de Frontaria Azulejada, de Santos, símbolo icônico e patrimônio arquitetônico neoclássico brasileiro datado de 1865, notadamente com o recorte de sua fachada, para um estudo de caso tributário das antigas paisagens e marcas do urbanismo. Ao comparar com outros edifícios de Santos (Antiga Alfândega de Santos), do Rio de Janeiro (Academia Imperial de Belas Artes), de Recife (Academia Pernambucana de Letras) e de Gerasa (Arco de Adriano), a pesquisa revela correspondências de conteúdos que traduzem os traços neoclássicos dos movimentos arquitetônicos brasileiros.
    Esta edição apresenta, ainda, o resumo da dissertação de Audrey Cristina Barbosa, mestre no Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Santo Amaro. “Da sala de aula ao palco: formação profissional em Teatro e Mostra de Teatro Estudantil do Teatro da Universidade de São Paulo – TUSP (2019)” traz reflexões sobre a potência do teatro estudantil a partir da análise de três peças apresentadas na I Mostra de Teatro Estudantil do Teatro da Universidade de São Paulo – TUSP em 2019: Trágico Bicho Homem, O Despertar dos caracóis logo após as tempestades artificiais e O Padre do Balão, a fim de observar o perfil do teatro estudantil em São Paulo e a maneira como festivais e mostras auxiliam no processo educacional em Teatro. Propostas estéticas, conflitos, formas de encenações colhidos em materiais empíricos como vídeos das peças, notícias publicadas na mídia impressa ou digital, espetáculos são utilizados para análise.
    Seguramente, os textos que se apresentam nesta edição da revista vislumbram contribuir, de maneira ampliada e profunda, para enriquecer o debate em torno de temáticas emergentes nas Ciências Humanas. Aproveitamos o ensejo para agradecer aos autores e desejar aos leitores excelente fruição.
    Editorial é assinado pela professora doutora Maria Auxiliadora Fontana Baseio
    Rafael Lopes de Sousa
    Editor de Veredas

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 4 n. 8 (2021)

    Nesta quadra da história, quando nos encontramos sitiados pela escuridão, intolerância e blasfêmia negacionistas, precisamos recordar da força de Goethe que, mesmo em seu leito de morte, não se deixou capitular e pediu: “Lich, mehr licht” (“Luzmais luz”).

    A nós, que, felizmente, escapamos do flagelo da ignorância, só nos resta resistir, professando fé inabalável nos saberes acumulados pela ciência, com a convicção de que, à maneira de Diógenes, devemos seguir, iluminando os espaços escuros por onde passarmos. E, de passagem, entregamos aos nossos leitores mais um número deVeredas.

    Os tempos são sombrios, mas não podemos perder a esperança no Brasil e nos brasileiros. O momento nos pede um pouco de mais paciência, a paciência requerida pelo pesquisador em seu ofício. A alma adoentada clama pela cura do mal, a pressa nos pede um pouco mais de calma para escutar e processar opiniões divergentes, que norteiam o fazer editorial de Veredas.

    No cenário multicultural e interdisciplinar desta revista, o erudito e o popular se entrelaçam, conferindo sentido ao canto otimista de Lenine e Dudu Falcão em sua ode à Paciência:

    Mesmo quando tudo pede
    Um pouco mais de calma
    Até quando o corpo pede
    Um pouco mais de alma
    A vida não para

    [...] Enquanto todo mundo
    Espera a cura do mal
    E a loucura finge
    Que isso tudo é normal
    Eu finjo ter paciência

    O mundo vai girando
    Cada vez mais veloz
    A gente espera do mundo
    E o mundo espera de nós
    Um pouco mais de paciência

    [...] Será que é tempo
    Que lhe falta pra perceber?
    Será que temos esse tempo
    Pra perder?
    A vida é tão rara
    Tão rara [...]

    Tão rara é a vida! E Veredas busca fugir do cerco obscurantista imposto ao povo e às universidades brasileiras, abrindo-se às contribuições de pesquisas variadas, que procuram responder à contingências sociais e à preocupações acadêmicas sobre a marcha do conhecimento. O primeiro artigo, de Renata Pitombo Cidreira e Etevaldo Santos Cruz, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em “Corpo, Veste e Afeto”, analisa as dimensões afetivas do corpo, espelhando a entrada das emoções como um objeto recente e inovador de pesquisa.

    A seguir, o pluralismo dos olhares se detém sobre a ecologia, relembrando a exigência atual da defesa do meio ambiente, para a preservação da vida na Terra. “Políticas verdes e a formação de partidos ecológicos em Portugal”, de Antônio Teixeira Barros apresenta-nos uma reflexão sobre a responsabilidade política do homem para controlar o uso da Natureza, com ética e pragmatismo.

    A lógica da escrita e as possibilidades formativas no encontro do popular com o erudito nas ciências humanas encontram-se analisadas em “Leitura e escrita na alfabetização acadêmica”, de José Douglas Alves dos Santos, Éverton Vasconcelos de Almeida e Marizete Lucini.

    A família e a igreja, como instituições mais antigas e universalizadas de nossa espécie, é discutida em “O papel da família na educação sexual: discursos pastorais da Igreja Católica”, com o destaque concedido por Cícero Edinaldo dos Santos às interfaces entre Igreja Católica, família e educação sexual no mundo contemporâneo.

    As preocupações com as políticas públicas de saúde e cuidados com o corpo apresentam-se em “Causas do absenteísmo dos Usuários em Consultas Odontológicas”, de Alberto Boaventura da Conceição Junior e Chennyfer Dobbins Abi Rached. As emoções, como objetos recentes de pesquisa, reaparecem, concentradas, desta vez, em “Modelo conceitual para análise do Design Emocional”, de Manuela Gortz-Bonaldo, Décio Estevão do Nascimento e Frédéric Huet.

    “Princípios éticos para pesquisas com seres humanos em Ensino de Ciências e Saúde” são discutidos por Nielce Meneguelo Lobo da Costa, Susana Nogueira Diniz e Carlos Alexandre Felício Brito em “Conhecimentos prévios sobre a ética nas pesquisas com seres humanos”, artigo que discute as barreiras entre a necessidade do saber e o respeito ao conceito do ser humano como sujeito de direito.

    Memória e arquivos aparecem em “Fotografia como fonte histórica”, de Carlos Bauer, Lucilene Schunck C. Pisaneschi e Viviane Freitas. Os autores fazem o alerta de que as imagens podem valer ou não por mil palavras com seus registros e recortes das visões do mundo, sejam elas reais ou fictícias.

    Em “Escrita gestual do corpo”, Helry Costa da Silva e Juliane Vargas Welter, analisam o elemento erótico na novela “O erotismo em um copo de cólera, de Raduan Nassar. Os autores são guiados, em suas investigações, por David Le Breton (2009) e Octavio Paz, que oferecem pistas e metodologias distintas, mas complementares, para compreender as relações entre o amor, o   erotismo e a sexualidade a partir das ações e gestos manifestos pelos personagens em cena.

    Os problemas sobre a formação da esquerda revolucionária brasileira são tratados por Alzira Lobo de Arruda Campos, Rafael Lopes de Sousa e Manoel Francisco Guaranha em “Sistema repressivo e aparelhamento do Estado na década de 1930”, com o uso de farta documentação produzida pelos próprios revolucionários ou pelos policiais.

    Por fim, esta edição apresenta ao público leitor quatro resumos de dissertações e teses de diferentes universidades do Brasil. O primeiro da mestra Patrícia Vieira Santos, expõe resultados da pesquisa sobre as “Estratégias pedagógicas para graduação pública tecnológica”. Na sequencia temos o resumo da dissertação de Rodrigo Nazário Gerônimo Pinto. Trata-se de uma análise crítica sobre o direito do consumidor e as tendências da comunicação na cultura pós-moderna e a hipervulnerabilidade que atinge os consumidores na era da cibercultura.

    O corpo editorial de Veredas espera que o material desta edição sirva para fomentar o debate sobre o papel das Ciência, em especial das “Humanas”, para a formação de um pensamento crítico, capaz de contribuir para levantar problemas e apresentar soluções relativa ao tempo presente, à espera de um futuro mais auspicioso. Anseia, ademais, que os olhares polissêmicos que Veredas apresenta sobre a cultura e os costumes do Brasil transmitam um pouco da paisagem acadêmica destes tempos nefastos de pandemia.

    A todos, uma boa leitura e uma boa sorte!

    Rafael Lopes de Sousa           

    Editor de Veredas

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 4 n. 7 (2021)

    O ano de 2020 terminou de maneira melancólica e sombria, deixando um rastro de incertezas, dúvidas e medos. O tempo que se iniciava, o tão esperado 2021, deveria, como de costume, renovar os projetos, os desejos e as esperanças da humanidade. Se o ano de 2020 foi marcado por diversos acontecimentos que inquietaram a psique humana, o descortinar de um novo ano criava a expectativa de que a “simples” virada do calendário traria de volta a “normalidade” dos encontros, afetos, olhares e abraços públicos. No cipoal de dúvidas e incertezas com o devir, os educadores foram obrigados a reorganizar suas agendas, repensar a didática e seus métodos de pesquisa e escrita, mas nada, absolutamente nada, afetou tanto a atividade laboral da docência como o distanciamento das discussões e debates que se davam na ágora acadêmica, subitamente congelada pela novidade do trabalho remoto. Jamais imaginaríamos que o distanciamento físico da biblioteca, do contato direto com os alunos em sala de aula, do sorriso de acolhimento do colega, ou a alegria de compartilhar o café na lanchonete fariam tanta falta à renovação de nossa criatividade e, por via de consequência, ao aprofundamento de nossas reflexões. Porém, as dificuldades impostas pela distância não nos afastaram de nossos afazeres; ao contrário, fizeram surgir novas demandas que precisavam ser respondidas com a urgência e a impessoalidade da “era da liquidez” (BAUMAN, 2001). Nestes tempos pandêmicos, os trabalhos e as solicitações para cumprimento de prazos e mesmo a pressão pela “produtividade” só fizeram crescer as responsabilidades acadêmicas desta tribo estranha, mas absolutamente necessária, dos cientistas sociais, empenhados em abordar interdisciplinarmente antigos e novos problemas decorrentes da interseção da marcha do conhecimento com as emergências sociais.

    É nesse cenário que Veredas prossegue em seu caminho, apresentando artigos de pesquisadores que, apesar de enredados nas incertezas da atualidade e assoberbados pelas mais diversas demandas, respondem positivamente ao chamado da revista, dando a conhecer reflexões articuladas a variadas temáticas, mas unidas ao princípio comum: defesa da pluralidade cultural e combate sem tréguas ao negacionismo científico. A partir da multiplicidade temática e da interdisciplinaridade metodológica, Veredas, no primeiro número de 2021, apresenta um dossiê variado, composto por dez artigos e quatro resumos de dissertações. Os artigos refletem sobre o carnaval na cidade de São Paulo, história em quadrinhos, poesia, o encontro do romance com a narrativa histórica, vinho e globalização, educação e tecnologia, dependentes químicos, golpe militar e direitos humanos. Os quatro resumos de dissertações, por sua vez, registram contribuições com temáticas plurais, derivadas de questões sobre a “criminalização do movimento operário”, “cultura participativa e cibercultura”, “envelhecimento humano e modernidade”, além da “presença feminina na gestão escolar”. 

    No artigo de abertura do presente número de VeredasAs cantoras, musas dos sambas-enredo dos carnavais paulistanos (1980-1991) –, Zélia Lopes Silva investiga, no viés feminino, o significado das homenagens prestadas às cantoras e intérpretes brasileiras da primeira década posterior aos governos militares, dos pontos de vista da identidade da mulher e do alinhamento dos enredos às exigências decorrentes da institucionalização dos festejos carnavalescos, política essa destinada a conferir um perfil de brasilidade aos circuitos oficiais.

    No segundo artigo – The Sertão of Mister No: how to take seriously a comics’ character –, Paride Bollettin analisa os desenhos de quadrinhos como forma de apresentar o imaginário sobre lugares e povos diferentes, tomando, como fulcro, um desenho italiano sobre os acontecimentos que envolvem a personagem Mister No, em viagem pelo sertão brasileiro. O objetivo do texto é refletir sobre as confluências entre a ficção e a realidade, por meio da conjunção do imaginário do autor sobre o sertão brasileiro e a subjetividade específica do protagonista do desenho.

    Matéria de Poesia: por um plano de pensamento contra-hegemônico, de Rodrigo Peixoto Barbara e Luciene de Oliveira Dias, discute, a partir de uma vertente contra-hegemônica, as contribuições da poética de Manoel de Barros para um pensamento analítico de “contra-fluxo”. Estruturado em três partes, o texto se inicia com uma breve biografia de Manoel de Barros, centralizada nas argumentações e nos elementos que constituem a matéria de sua poesia. A seguir, alinham-se considerações sobre o conceito de contra-hegemonia, do filósofo italiano Antônio Gramsci e do educador brasileiro, Paulo Freire. Por fim, os autores dispõem algumas reflexões sociais contra-hegemônicas, respaldados nos versos de Matéria de Poesia, um importante poema manoelino.

    História e literatura: possíveis usos do paradigma indiciário e da operação historiográfica, de Cássio Michel dos Santos e Adriana Romero Lopes, toma como universo empírico a obra de Geraldine Brooks, As memórias do livro, a fim de discutir os processos de construção da narrativa histórica a partir da concepção de “verossimilhança”, presente na escrita historiográfica, e do “efeito do real”, inerente à escrita literária.  A análise realça o uso ficcional que a literatura faz de fatos históricos para criar seu enredo/trama. Nessa vertente, os autores procuram demarcar as diferenças entre a obra literária e a historiográfica, advertindo que o historiador, ao se utilizar dos mecanismos narrativos da literatura, deve evitar engodos estilísticos para conquistar o seu leitor.

    Na mesma linha, Rafael Lopes de Sousa, Álvaro Cardoso Gomes e Luiz Antônio Dias estabelecem um diálogo entre a literatura, a história e as artes plásticas, em Representação e realidade: intriga, paixão e crime no romance Meu Nome é Vermelho, de Orhan Pamuk. Os autores buscam, em primeiro plano, compreender as intrigas, paixões e mistérios que servem de estrutura para o enredo da obra ficcional; num segundo, buscam estabelecer as diferenças de estilo entre os pintores ocidentais e os orientais, no que diz respeito à representação do homem, durante o Renascimento. Na perspectiva dos autores, o romance deixa entrever que, ao valorizar o individualismo, o Ocidente consolidou o modo de vida burguês, mas, ao estabelecer suas influências no Oriente, o conceito de individualismo precipitou o empobrecimento da economia e da cultura islâmicas, a partir do Século XIX.

    “Para nunca esquecer”: direitos humanos e a ressignificação do espaço tempo escolar, de Tiago Dionisio da Silva, Nilcelio Sacramento de Sousa e Adenir Carvalho Rodrigues, discute a questão dos direitos humanos no espaço escolar a partir de experiências vivenciadas em uma escola estadual da Baixada Fluminense. Trata-se de iniciativa adotada pela Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC/RJ) e que envolveu toda rede estadual, com destaque para a autonomia tanto da escola quando dos (as) estudantes, que participaram do processo. O texto destaca a importância das reflexões sobre a potência das oficinas pedagógicas realizadas a partir de eixos ancorados no cotidiano da escola e negociados com os(as) estudantes. 

    Dependentes químicos sob a ótica da previdência: a sobriedade da inserção social frente à qualidadedevida, de GuilhermeAugustoLinzmeyer, Ana Paula Ribeiro e Neil Ferreira Novo, discute os desafios que as Políticas Públicas sobre o álcool e outras drogas representam para os  trabalhadores da área da Saúde. Da óptica de uma emergência social significativa nos tempos atuais e que se viu agravada pelos impactos da pandemia sobre a sociedade, os autores destacam anecessidade do desenvolvimento de políticas públicas que visem à reinserção social e laboral dos indivíduos e dareabilitaçãodestes aoconvíviocoletivo, como cidadãos autônomos e responsáveis. A análise deixa entrever que o fator previdenciário ou salarial,obtido pelo labor, mostra-se um elemento protetor quando relacionado aosmelhores índices de capacidade funcional de saúde da população,masnão provoca mudanças significativas na qualidade de vida dos droga dependentes.

    Patrícia Margarida Farias Coelho e José Armando Valente em O uso de games digitais como ferramenta pedagógica aplicada ao ensino de língua portuguesa e suas literaturas analisam os games digitais como instrumento pedagógico aplicado ao ensino de língua e literatura brasileira, em uma escola estadual da cidade de São Paulo. A análise é ancorada empiricamente na plataforma FazGame, que permite a criação de jogos educacionais on-line. Os autores entendem que um games e caracteriza como um ambiente que simula situações ou como um texto sincrético, no qual distintas linguagens (verbais, visuais, sonoras e sincréticas) interagem em igualdade e se complementam mutuamente, abrindo possibilidades para que o professor de língua e literatura possa obter resultados satisfatórios no processo de ensino e aprendizado, ao aplicar games em sua prática pedagógica.

    Vinho e imaginários em contexto de globalização avançada, de Carla Pires Vieira da Rocha e Eunice Sueli Nodari, investiga o vinho e os imaginários sociais que o cercam, no contexto da globalização avançada da atualidade. A principal fonte de suas investigações são as capas da revista Vinho Magazine. Assim, o quadro teórico e metodológico aplica-se às imagens e dizeres dessas capas, procurando discernir como os imaginários globais vêm sendo constituídos e disseminados a partir das mídias de comunicação. Prosseguindo em suas reflexões, os autores buscam entender como os imaginários, registrados no continente empírico por eles selecionado, podem trazer revelações tanto no que diz respeito ao vinho em contexto de globalização avançada, quanto sobre a natureza da própria globalização.

    O sentido ideológico de Cultura Corporal na perspectiva crítico-superadora: análises das práticas docentes é um texto que traz as reflexões de Marlon Messias Santana Cruz, Jonatan dos Santos Silva e Felipe Eduardo Ferreira Marta sobre as formas de aplicação da análise de discurso à tendência pedagógica crítico-superadora, por meio de uma revisão sistemática em textos publicados no Caderno de Formação da Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Os autores procuram, nessa análise, identificar os sentidos atribuídos à Cultura Corporal nos textos analisados, concluindo que a Educação Física apresenta diferentes concepções de seu objeto de estudo, uma vez que a variedade de concepções encontradas na literatura investigada resulta das bases epistemológicas que fundamentam as ações educativas.

    A partir do pressuposto de que os trabalhos acadêmicos finais devem ser objetos de ampla discussão, que depende de um esforço editorial responsável e engajado aos interesses acadêmicos mais amplos, são apresentados ao público leitor quatro resumos de dissertações sobre diferentes temáticas, abaixo esquematizados.

    A Criminalização do Movimento operário na Primeira República: a repressão à Greve Geral de 1917, de Gabriel Marcello Jordão Cirera, analisa interdisciplinarmente o primeiro movimento que se identifica como “greve geral” do operariado brasileiro. O autor perscruta a influência dessa greve em outras partes do território nacional, procurando entender os aspectos legais e jurídicos da repressão ao movimento grevista, na perspectiva do Código Penal de 1890 e da Lei de Expulsão de Estrangeiros de 1907. Com uma abordagem pluralista de vários campos do conhecimento – História, Sociologia, Direito – o artigo reflete sobre o papel exercido pelos poderes executivo, legislativo e judiciário na repressão à Greve de 1917.

    Cultura participativa e cibercultura: o You Tube como estratégia pedagógica de Talita Destro Rost, investiga a interatividade de plataforma digitais quanto ao compartilhamento de conhecimento educacional, procurando compreender as estratégias pedagógicas de ensino do canal Matemática Rio do You Tube Edu. A pesquisa apoia-se em uma perspectiva teórica da cibercultura, como vetor para compreender as relações que se estabelecem entre a plataforma do You Tube e estratégias pedagógicas específicas. A autora destaca que as pessoas têm utilizado abundantemente dos vídeos do canal como meio de aprendizagem, quanto aos números de visualizações, porém há poucos registros de interatividade, quando se comparam os vídeos com os percentuais das categorias de “curtidas”, “não curtidas” e “comentários”.

    Envelhecimento humano e modernidade: contribuições do conhecimento acadêmico, de Oriana Corrêa Martins, apresenta uma visão interdisciplinar sobre o conhecimento trazido por teses e dissertações que cuidam do envelhecimento, interligando-o com as conquistas do saber da Biologia, da Saúde, da Psicologia e da Antropologia. A autora busca entender o envelhecimento no bojo das iniciativas de políticas públicas de cidadania e emancipação. A pesquisa dirige-se para a crítica do “estado da arte” da produção acadêmica sobre o tema, tendo, como referência principal, um conjunto de termos: envelhecimento, políticas públicas do idoso, qualidade de vida e corpo. Os resultados evidenciam que a concepção de vida se fundamenta no tema prioritário da saúde relativa ao bem-estar e à qualidade de vida. Os dados divulgam particularidades culturais, que expressam as projeções sociais sobre um público, designado como “terceira idade”.

    Presença feminina na gestão escolar: o pioneirismo de miss Marcia Browne na rede pública de ensino de São Paulo (1890-1896), de Michel Alves da Cruz, tem como objetivo entender a influência feminina na gestão escolar, com o pressuposto aparentemente paradoxal de que, em uma sociedade machista como a brasileira, as mulheres são maioria absoluta nos cargos de gestão escolar. O modelo analítico apoia-se fortemente em documentos, a fim de compreender os processos históricos do predomínio feminino, investigando o papel da mulher na sociedade patriarcal em relação às particularidades inerentes à gestão educacional. As evidências concernentes aos enfrentamentos de gênero no âmbito educacional valem-se dos registros históricos relativos à educadora Miss Marcia Browne.

    A Editoria da Veredas deseja que os artigos e resumos desta edição sirvam para fomentar o debate sobre a interdisciplinaridade, vindo a contribuir para a formação de um pensamento crítico capaz de ampliar a compreensão sobre os desafios do presente e as soluções possíveis para atenuar a imensa miséria humana, nestes tempos malsãos em que vivemos.

    Uma boa leitura e boa sorte a todos!

    Rafael Lopes de Sousa

    São Paulo, junho de 2021.

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 3 n. 6 (2020)

    Prezados leitores,

    A Revista Acadêmica Veredas é um periódico eletrônico, de caráter multidisciplinar, dedicado à pesquisa, ao debate e à construção do conhecimento por meio da publicação de artigos científicos produzidos, não só por docentes das diversas linhas de pesquisa do Mestrado Interdisciplinar de Ciências Humanas (MICH) da Universidade Santo Amaro (UNISA), mas também por pesquisadores de quaisquer outras áreas que, de alguma forma, busquem um diálogo interdisciplinar com os dramas e angústias dos homens e mulheres que compartilham as experiências da hipermodernidade. Publica artigos e ensaios de pesquisadores brasileiros e estrangeiros funcionando, assim, como espaço para um fértil diálogo e debate de ideias entre as diversas áreas do conhecimento acadêmico nacional e internacional. Está, portanto, aberta a contribuições e abordagens que envolvem as diversas facetas da sociedade contemporânea, desde que de alguma forma, dialoguem com o universo teórico multidisciplinar. Ainda no âmbito deste projeto, a Veredas propõe-se a publicar, também, resumos de dissertações de mestrado bem como de teses de doutorado.  Em seu número 6, do ano III, Veredas traz dez artigos e cinco resumos de diversas áreas do conhecimento, elaborados por pesquisadores de diferentes universidades do Brasil. Abrindo este número em “Cantigas que embalam a infância no Brasil e em Cabo Verde”, Avani Souza Silva mostra-nos a importância da música na aprendizagem infantil no Brasil e em Cabo Verde. Amparada pelo arcabouço teórico de Stuart Hall, a autora busca compreender como cantigas de ninar e cantigas de roda, estas cabo-verdianas e aquelas brasileiras, contribuíram para a construção da identidade cultural nesses territórios. No segundo artigo, “Educação indígena e direitos humanos racismo e sub-representação na educação em MS” Antonio Hilario Aguilera Urquiza e Evanir Gomes dos Santos analisam a aplicação da educação indígena no território de Mato Grosso do Sul. Os autores realizam uma revisão bibliográfica do tema e dialogam com a Declaração das Nações Unidas e da legislação nacional referente à educação indígena, pós-Constituição Federal de 1988. O texto lança luz sobre os descaminhos da educação indígena. De suas linhas pode-se depreender que, apesar das garantias constitucionais, os estudantes indígenas permanecem em situação precária, sofrendo, inclusive, com práticas de discriminação, preconceito e racismo institucional. Na continuidade, em “Hábitos alimentares e de higiene oral dos índios de Roraima e sua relação com a condição bucal”, Caio Vinicius G. Roman Torres, Debora Pallos e Richardson Mondego Boaventura discutem os resultados de uma pesquisa de saúde bucal em comunidades indígenas do Estado de Roraima. O estudo questiona a invisibilidade epidemiológica dos poucos trabalhos publicados sobre o tema. Seus autores perscrutam igualmente, os entraves socioeconômicos e socioculturais para o uso do creme dental e escova na higienização oral das comunidades indígenas, sem esquecer, todavia, que algumas etnias realizam a higienização oral de modo alternativo utilizando-se de elementos da natureza. No que tange a liberdade de culto, o estudo “O ecoar dos atabaques no Direito Internacional dos Direitos Humanos: aportes sobre a proteção da liberdade afrorreligiosa”, de Pedro Meneses Feitosa Neto e Ilzver de Matos Oliveira, analisa os pontos de convergência entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o direito interno brasileiro. A investigação questiona qual desses direitos mostra-se mais emancipatório para os afrorreligiosos, principalmente nos embates com a colonialidade e com os privilégios obtidos historicamente pelas religiões majoritárias. O intuito, com esse estudo, consiste em evidenciar a necessidade da reinterpretação do direito a partir de uma perspectiva dos povos tradicionais de terreiro. Assim, de objetos dos discursos dos direitos humanos os adeptos dessas religiões podem se converter em sujeitos de direitos. Quanto à abordagem gênero no âmbito educacional, o artigo “As Políticas Educacionais em gênero na perspectiva da Pedagogia do Oprimido”, escrito por Maíra Souto Maior Kerstenetzky e Waldênia Leão Carvalho, debate os processos de empoderamento das mulheres a partir dos ensinamentos freireanos no escrito Pedagogia do Oprimido. O ponto de partida das autoras é a onda conservadora que atingiu o país a partir de 2014 e fez recuar as políticas educacionais em relação à temática de gênero. Investigam as origens educacionais da política de gênero e daí retiram argumentos para perquirir o modelo educacional uniforme, que nega as diversidades de experiências e de vivências humanas. Em seguida, em “Educação e complexidade em tempo de cultura digital”, retoma-se o tema da educação, com Nize Maria Campos Pellanda, Maria de Fátima de Lima das Chagas e Rafael Sbeghen Hoff. As autoras discorrem sobre a educação, problematizando-a na perspectiva do ensino e da aprendizagem tensionada pelos algoritmos e pelo acoplamento tecnológico proposto em uma cultura cada vez mais digital. Discutem alternativas de emancipação do sujeito para além das programações previstas pelos dispositivos tecnológicos. Pretendem, com isso, encontrar práticas didático-pedagógicas de “subversão” com vistas à autonomia dos sujeitos educandos. Em “Aspectos do projeto de arquitetura na Grécia Antiga: “estado da arte”, Claudio Walter Gomez Duarte e Artur Simões Rozestraten apresentam uma leitura do ‘estado da arte’ sobre as peculiaridades do desenho de arquitetura grega, construindo, assim, uma perspectiva sobre as descobertas recentes e o histórico de aproximações científicas aos conhecidos desenhos. Em suas análises, utilizam-se de elementos complementares ao desenho, como osyngraphé e o parádeigma, bem como o testemunho de Vitrúvio. Buscam, com essa revisão, entender e redimensionar os aspectos técnicos específicos da arquitetura monumental grega. Em “Patrimônio Cultural, Arqueologia Pública e Educação Patrimonial: multivocalidade e interdisciplinaridade”, Juliana Figueira da Hora e Vagner Carvalheiro Porto apresentam as correlações de Patrimônio Cultural com a Arqueologia Pública, inventariando aspectos das leis que regem o Patrimônio no Brasil e no mundo e problematizando as questões relativas à interdisciplinaridade e à multivocalidade da Arqueologia Pública. Conforme análise, a Educação Patrimonial busca mostrar à população a importância da valorização de seu patrimônio, bem como conscientizar os sujeitos envolvidos na valoração e na preservação de sua identidade e memória cultural. O artigo “Qualidade da Educação Infantil Pública: uma pesquisa exploratória das Políticas Públicas para sua efetividade no Município de São Paulo”, Heloisa Candia Hollnagel, Maria Euma Soares e Crislane Santos Silva discutem o avanço da legislação no que tange a Educação Infantil. O estudo está focalizado na análise qualificada da sua oferta, sobretudo, para o município de São Paulo, no que diz respeito às Políticas Públicas de Qualidade para Educação Infantil. As autoras discutem aspectos da legislação e o que, de fato, vem sendo feito para a melhoria das políticas públicas no âmbito educacional. Buscam, pois, entender os padrões básicos de qualidade desse segmento da educação paulistana, bem seus indicadores de qualidade, dando ênfase aos desafios de sua aplicabilidade. Na sequência, em “Limites jurídicos da proteção da propriedade no setor farmacêutico”, Marcelo Salles da Silva, Marcio Luiz dos Santos  e Artur Eduardo Alves de Castro  tecem uma análise dos direitos de propriedade decorrentes da concessão de patente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Investigam, sobretudo, a possibilidade de aplicação compulsória da quebra de patente sobre fármacos. Trata-se de pesquisa exploratória e explicativa, de natureza qualitativa, que adota o método de revisão bibliográfica e análise documental. Concluem que a quebra de patente ou o licenciamento compulsório de produtos farmacêuticos não exclui o direito de propriedade do inventor, mas traz evidente prevalência do interesse público sobre o interesse patrimonial privado, primando, assim, pela saúde e pela vida em consonância com as diretrizes dos Direitos Humanos. Por fim, esta edição apresenta ao público leitor cinco resumos de dissertações de alunos do Mestrado Interdisciplinar de Ciências Humanas da Universidade Santo Amaro (MICH/UNISA). Abrimos a seção de resumos com a dissertação, “Desafios do ensino bilíngue na construção de uma educação intercultural: o livro didático em questão”, de Talita Destro Rost aborda a importância de serem traçadas políticas públicas de educação para construir sentidos democráticos ao abordar a língua inglesa. Com uma metodologia apoiada na interdisciplinaridade, o trabalho tem como a análise do livro didático Way to English for Brazilian Learners nos quatro níveis do ensino fundamental II. Em sequência, temos a dissertação de mestrado, “A Reforma Trabalhista, retrocesso histórico e social: impactos na categoria bancária”, de André Fabiano Watanabe. Nesta pesquisa, o autor investiga as alterações promovidas pela Lei 13.467/2017, da chamada de Reforma Trabalhista, anunciada como necessária para modernizar os direitos dos trabalhadores e gerar mais empregos. Problematiza os aspectos históricos e sociais da Constituição Federal e os limites que esta impõe para alterações legislativas e de direitos. O autor faz uso de ampla pesquisa bibliográfica e de fontes primárias, como jornais em uma abordagem de cunho interdisciplinar. O terceiro resumo “Memória e esquecimento: a exclusão de Minas Novas da Estrada Real Mineira”, de Alice Ferreira Silva, é um estudo que busca compreender as razões do esquecimento da cidade de Minas Novas no Alto Jequitinhonha, como parte do caminho da Estrada Real Mineira. Utilizando-se do método de análise comparativa e interdisciplinar, a pesquisa problematiza os mapas elaborados por Padres Matemáticos e edificações históricas presentes nas cidades. Busca, com este método de trabalho, identificar, comparar e expor os contextos que evidenciam a memória e o esquecimento da cidade como parte da Estrada Real. Em “O lúdico e as inteligências múltiplas no ensino da Língua Inglesa: uma análise interdisciplinar da Coleção Way toEnglish” de Lilian Fernandes Carneiro, a autora investiga a abordagem do lúdico no ensino de língua estrangeira, para estudantes do Ensino Fundamental II. Tem por finalidade identificar o benefício que a experiência do jogo proporciona na aquisição do conhecimento e a efetividade no aprimoramento do ensino-aprendizagem de maneira inclusiva e interdisciplinar. Realizou-se uma pesquisa de natureza exploratória, quanto aos fins, e bibliográfica, quanto aos procedimentos. A autora analisou a coleção Way to English, da Editora Ática, que consta do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) referente ao triênio 2017, 2018 e 2019. Os resultados obtidos demonstraram que, dentre as várias técnicas disponíveis para o ensino da língua inglesa, a ludicidade tem sua importância no desenvolvimento do aprendizado. O último resumo, “Memória e cultura material: Cemitério Campo da Saudade, Município de Couto Magalhães”, a mestranda Juliana Maria Martins, analisa os possíveis fenômenos sociais e mentais que contribuem para a formação das variações tumulares, no contexto do Cemitério Campo da Saudade. O estudo foi desenvolvido de maneira interdisciplinar estabelecendo diálogo com o universo teórico da Filosofia, História e Antropologia. Seu interesse é o de compreender os padrões e demarcações dos enterramentos, ou maneiras específicas de organização dos corpos inseridos no cemitério Campo da Saudade em Porto Franco do Araguaia, distrito do município de Couto de Magalhães (TO).

    Ao final dessa jornada, desse ano pandêmico, desejamos, enfim, que todos e todas estejam bem. Esperamos igualmente que os artigos e resumos desta edição fomentem o debate e contribuam para a formação de um pensamento crítico capaz de ampliar a nossa compreensão sobre as vicissitudes do tempo presente.

    Uma boa leitura!

    Rafael Lopes de Sousa

    Editor Chefe

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 3 n. 5 (2020)

    O Primeiro número deste ano da Revista Veredas apresenta dez artigos e quatro resumos de teses e dissertações de doutorado e mestrado. Temos contribuições que tratam da poesia política, cidade e memória, educação e as muitas possibilidades de ensinar e aprender, estudos sobre o corpo feminino e os cuidados de Si, feminícidio sem distinção de classes sociais, Golpe Militar e música. Nos resumos, temos contribuições com temáticas variadas que abordam questões como a “acessibilidade para estudantes com deficiência no ensino superior”, os efeitos da “imigração boliviana na cidade de São Paulo”, uma nova abordagem da “soberania estatal na pós-modernidade” e as relações de proximidade entre os “influenciadores digitais e consumo social”.  Abrindo este número em “Play it again, marginais!: uma leitura da poética de Ana Cristina Cesar e Paulo Leminski”, Luciana Brandão Leal apresenta-nos uma reflexão sobre a poética de Leminski e Cesar produzida sob a vigília do  regime militar no contexto da década de 1970. Sua visão crítica do duplo lugar de pesquisadora e professora, oferece-nos pistas para compreender a etapa dita marginal e a posterior canonização desses autores pelos leitores e pela crítica brasileira. No segundo artigo, “Crioulização e estilo Sobre A Conjura, de José Eduardo Agualusa”, Sérgio Guimarães de Sousa analisa A Conjura, o primeiro romance de Agualusa (1981). Quer neste percurso encontrar elementos que definirão a singularidade do imaginário literário do autor. O texto lança luz sobre o interesse do escritor angolano a respeito das questões raciais em sua terra natal. De suas linhas pode-se depreender que a “crioulização” é um meio para enfrentar o racismo, na medida em que dá azo à miscigenação e ao hibridismo cultural, sustentado por um desejo de superação dessa chaga social que atravessou o século XX e assombra o XXI. Na continuidade, em “Direitos reprodutivos em foco: audiovisuais didáticos como ferramentas para a educação de jovens", Taluana Laiz Martins Torres e Maria de Fátima Salum Moreira discutem os resultados de uma pesquisa de doutorado que teve como objeto o estudo das produções audiovisuais didáticas sobre sexualidade e direitos reprodutivos, produzidas por Organizações Não-Governamentais (ONGs). Querem compreeder o impacto dessa tecnología nas atividades cotidianas dos professores que trabalham diretamente com jovens. A perspectiva sócio-histórica e cultural de Mikhail Bakhtin (1990) e seus conceitos de dialogismo, intertextualidade e interdiscursividade forneceram o arcabouço teórico para as análises empreendidas. Depois, ainda dentro do debate dos estudos sobre educação,  "Educação crítica. Educação reflexiva, o ensino´-aprendizagem da saúde e meio ambiente: uma contribuiçãodo enfoque interdisciplinar", Patrícia Colombo de Souza e Renato Marco, analisam as questões socioambientais e sua importância para o mundo urbano industrial, bem como os seus efeitos sobre e para a qualidade de vida do ente contemporâneo. Os autores criticam os desmandos das autoridades nas áreas da educação e da saúde. Todavia, apesar dos entraves burocráticos e políticos enxergam, ainda assim, importantes contribuições nessas áreas do conhecimento que podem contribuir com as desejadas mudanças nas relações do agente contemporâneo com as questões socioambientais. Em seguida, em “Negligência/negação à escolarização em quilombos da região de Guanambi/Bahia”, retomamos o tema da educação com Leila Maria Prates Teixeira Mussi, Ricardo Franklin de Freitas Mussi e Alexandre Garcia Araújo. Os autores interpretam a escolarização como uma experiência que deve ser garantida segundo as características identitário-culturais dos seus respectivos grupos populacionais. Assim, por meio de uma análise quanti-qualitativa do perfil de seus participantes, concluem que a maioria dessas escolas funciona com turmas multisseriadas nas séries iniciais do ensino fundamental. Afirmam, na consecução de suas análises, que a negligência ou negação à escolarização criou barreiras para a formação identitária dessas comunidades e assim inviabilizou a formação antirracista do povo baiano. Por um olhar da violência contra a mulher, em “Estudo do perfil dos casos de feminicídio no Brasil no período de 2008 a 2018”, Andreia Cristina Micchelucci Malanga, Carmem Bastos e Jane Caldeira debatem as incidências de casos de violência contra mulher no Brasil do tempo presente. A pesquisa discute a análise da evolução dos números de casos de violência contra a mulher com idade entre 10 e 49 anos notificados pelos serviços públicos e uma possível relação desses acontecimentos com o grau de escolaridade. Retomando o debate sobre educação e suas diversas vertentes, em “Inteligências emocionais na prevenção e enfrentamento à Síndrome de Burnout na docência do ensino superior”, Suzana Ferreira Paulino Domingos e Júlio César da Silva apresentam um estudo sobre o desenvolvimento das inteligências ligadas à dimensão emocional na prevenção e enfrentamento à síndrome de burnout na docência do ensino superior. A pesquisa apoia-se em uma análise bibliográfica e exploratória de como prevenir e enfrentar os impactos da síndrome de burnout na docência. Conforme a análise, o desenvolvimento das inteligências emocionais, bem como o conhecimento da síndrome são fortes aliados na prevenção e no enfrentamento ao burnout. “Esquadrão de Tortura: uma narrativa headbanger sobre a Ditadura Militar de 1964”, de Alexandre Rossi Carneiro e Lívia De Tommasi, revisita o Golpe Militar de 1964 por meio de uma narrativa construída pela banda paulistana de death/thrash metal Torture Squad em seu álbum conceitual “Esquadrão da Tortura”. Os autores Inventariam a recepção ao disco em resenhas, sites especializados e em publicações de vídeos no You Tube e, assim, trazem à tona as tensões políticas que as diferentes narrativas constroem sobre o Golpe 64. Na continuidade, em “A Ética e o Cuidado de Si na conduta das mulheres: condições de possibilidade, corpo e estratégias”, Rebeca Barbosa Nascimento e Nilton Milanez apresentam, numa perspectiva foucaultiana, uma análise da verticalização do olhar sobre matrizes de conduta para os corpos das mulheres, enquanto superfícies de emergência de contenções e resistências, considerando, sobretudo, as noções da Ética do Cuidado de Si. Perscrutam o ‘ser mulher’ como um fator social e histórico, enredado a saberes em torno do controle dos corpos possibilitando a emergência de posicionamentos historicamente silenciados. Logo depois, em “Uma cidade sem passado? O registro cartográfico como preservação da memória de Minas Novas no Alto Jequitinhonha”, Alice Ferreira Silva e Paulo Fernando de Souza Campos utilizam os conceitos de memória e cartografia para a análise da região do Alto Jequitinhonha. De posse dessas ferramentas epistemológicas, buscam entender a memória, não apenas divergindo-a do esquecimento, mas a partir da herança que o espaço, objeto desta análise, ocupa, bem como de suas potencialidades em relação ao desenvolvimento regional. 

    Por fim, esta edição apresenta ao público leitor quatro resumos de dissertações e teses de diferentes universidades do Brasil. O primeiro, “Acessibilidade, Barreiras e Superação: Estudo de Caso de Experiências de Estudantes com Deficiência na Educação Superior”, da doutora Jackeline Susann Souza da Silva, trata da importância da acessibilidade como diretriz de política pública, para assegurar os direitos das pessoas com deficiência à educação, ao trabalho, à cultura e ao lazer, em igualdade de condições com as pessoas sem deficiência. O estudo quer entender como estudantes com deficiência experienciam a acessibilidade/barreira no ensino superior. Sua metodologia é de estudo, combinada com a técnica de shadowing (acompanhamento como sombra) com seis estudantes (três do sexo masculino e três do sexo feminino) da Universidade Federal da Paraíba - campus de João Pessoa. Logo em seguida, temos a dissertação de mestrado, “Imigração boliviana na cidade de São Paulo: construção e desconstrução de sua identidade cultural”, da mestranda Rosinéia Oliveira dos Santos, defendida na Universidade Santo Amaro (UNISA). Nesta pesquisa a autora investiga as mutações da identidade cultural dos imigrantes bolivianos na cidade de São Paulo a partir da década de 1990. Toma como base os locais que são símbolos e que marcam a cultura da imigração boliviana na cidade (Praça Kantuta, Rua Coimbra) e utiliza-se de notícias da imprensa de São Paulo e de seu mosaico de informações sobre a comunidade boliviana na cidade. Procura, assim, entender como eles se adaptaram e se interagem nessa nova paisagem urbana sem perder a individualidade e origem. O terceiro resumo aborda a temática da soberania estatal, “Limites e Potencialidades da Soberania Estatal na Pós-modernidade” de Angela Limongi Alvarenga Alves (USP) é um estudo que lança luz sobre as diversas teorias e transformações da soberania estatal, impulsionadas, quase sempre, pela ideia de crise do Estado moderno. O estudo tem como perspectiva de análise a tradicional concepção jurídica da soberania em que o Estado detém a exclusividade na produção do direito dentro de seu território. Perscruta os limites e vínculos entre direito, Estado e soberania defendidos pela clássica teoria do Estado para concluir que, na atualidade, a formulação do Direito é permeada por múltiplos sujeitos provenientes de um corpo social bastante complexo e heterogêneo que reinventa e reconfigura a noção de soberania estatal em favor da soberania estatal democrática. O último resumo, “Influenciadores Digitais e Consumo Social: estudo interdisciplinar sobre a construção de relacionamentos e impactos na decisão de compra” da mestranda Maira Silva de Moraes da Universidade Santo Amaro (Unisa), quer entender como as mídias sociais reconfiguraram nossa maneira de estar no mundo. A pesquisa concentra-se no consumo, nas relações sociais mediadas digitalmente, na emissão e na recepção de mensagens e tem como objetivo precípuo responder até que ponto os conteúdos digitais espontâneos e incentivados/patrocinados produzidos por influenciadores e publicados em diversas plataformas têm impacto na decisão de compra dos consumidores. Sua abordagem é interdisciplinar e problematiza alguns dos conceitos transversais das ciências humanas, tais como: sociedade, as identidades, a aquisição, o compartilhamento e a mercantilização do saber. A pesquisa está ancorada em um estudo de caso com técnicas de observação participante. Depreende-se dessas observações que o valor das marcas sofre o impacto da percepção dos consumidores; que o ato de comprar assumiu contornos sociais; e que os influenciadores digitais se posicionam como especialistas e constroem relações de confiança com seus públicos.

    Desejamos, enfim, que os artigos e resumos desta edição fomentem o debate e contribuam para a formação de um pensamento crítico capaz de ampliar a nossa compreensão sobre as vicissitudes do tempo presente.

    Uma boa leitura a todos!

    Rafael Lopes de Sousa

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 2 n. 4 (2019)

    O segundo número da Revista Veredas, deste ano de 2019, apresenta oito artigos e cinco resumos, abordando uma rede de discussões que envolve as diversas facetas da sociedade contemporânea, como a memória, a censura, o jornalismo, a educação, os imigrantes, as questões de gênero e a violência.

    No primeiro artigo, “O relógio da matriz de São Francisco de Assis: histórias cotidianas de Palma – Minas Gerais”, as autoras Cristiana Callai e Ana Isabel Ferreira de Magalhães entrelaçam histórias, memórias e narrativas da pequena cidade de Palma e dão relevo ao cotidiano de pessoas humildes que compartilham suas experiências de vida pelo estreito observatório das janelas de suas casas ou na imensidão dialógica da praça central. Qualquer que seja a situação, a presença onisciente do relógio da Matriz de São Francisco testemunha e registra as “histórias miúdas” da cidade de Palma. Na sequência, temos o artigo. “A história do tempo presente e a participação do jornalismo nas narrativas sobre o binômio HIV/AIDS”, escrito por Pablo de Oliveira Lopes e André Mota. Os autores investigam a participação do jornalismo nas narrativas supostamente neutras que conferem às ciências naturais posição de destaque na mídia para produzir verdades quase absolutas sobre temas relacionados ao “binômio HIV/AIDS”. Perscrutam a eficiência dos estudos da ciência médica que lidam com números e estatísticas do tema, mas negligenciam os desejos e obrigações dos pacientes ligados ao processo saúde-doença. O estudo quer compreender as interfaces entre o Jornalismo, a Saúde, sobretudo Medicina e a História, com vistas à compreensão de suas influências no controverso universo sóciocultural do HIV/AIDS. Na área de estudos de gênero, temos a contribuição de Gerson  Heidrich da Silva e Renato Xavier Santana com o artigo,Transexualidade e identidade de gênero: um olhar psicanalítico”. O estudo investiga como ocorre o processo de identificação de gênero de transexuais, bem como sua vivência sexual no contexto intrapsíquico e social. Para os autores, a transexualidade é um campo atravessado por inúmeras controvérsias desde nomenclaturas até o entendimento da identificação de gênero e a sexualidade desses sujeitos. Amparados pelo escopo teórico da psicanálise, demonstram que há um movimento libidinal que se desloca de acordo com o desejo, cuja realização parece estar no ser reconhecido como sujeito que se reconhece em sua identidade de gênero. Na área de literatura, Luciana Brandão Leal propõe no artigoEntre galhofas e ironias: considerações sobre a estética machadiana, pela voz de Brás Cubasuma leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, a partir do estudo da ironia e do riso que ecoam da voz do narrador Brás Cubas. A autora explora a inovação estética do romance, sobretudo a ideia de ter como personagem central um defunto como narrador de sua própria história, algo até então pouco singular em nossa literatura. Outra contribuição que também dialoga com a literatura é o artigoEntre história e estórias: (re) visões de Moçambique em Terra Sonâmbula, de Mia Couto, das autoras Lourdes Ana Pereira Silva, Maria Auxiliadora Fontana Baseio e Maria Zilda da Cunha. Conforme análise, os estudos pós-coloniais abriram canais para diálogos interculturais. Dessa experiência, nasceu um discurso de natureza interdisciplinar que questiona o discurso colonial em busca de uma revisão e possível reescrita da História. Esses questionamentos abriram espaços, criaram campos de interlocução e fomentaram trocas culturais até então impensáveis. Movidas, pois, por essa orientação teórica, as autoras apresentam e discutem questões acerca da Literatura e suas intersecções com os estudos pós-coloniais, mais especificamente com a temática da identidade, conceitos utilizados para dialogar com o livro Terra Sonâmbula, de Mia Couto (1987). Na área de Educação, o artigo Financiamento da Educação Brasileira: Duas Visões de Mundo, dos autores Accioly, Costa e Coelho, apresenta uma reflexão sobre o financiamento da educação brasileira, sendo que seu objetivo precípuo é o de problematizar os gastos públicos com a educação. Investigam-se os impactos jurídicos e econômicos da aprovação do novo regime fiscal, implementado desde 2016 na educação brasileira, principalmente no que se refere ao Plano Nacional de Educação (2014-2024). Os autores analisam ainda as influências das políticas públicas na gestão da educação e indicam como suas fontes de financiamento são divulgadas na abordagem institucional e, na sequência, evidenciam como o financiamento da educação é tratado nos estudos científicos de especialistas. O artigo Meninos sem pátria, sem voz e sem vez ou a censura e o silenciamento da Obra de Luiz Puntel”, de Sarah Suzane Bertolli e Alexandre Ferreira da Costa, analisa a censura imposta à obra Meninos sem Pátria, de Luiz Puntel, em uma escola básica brasileira em 2018. Os autores investigam, histórica e discursivamente, que elementos impulsionaram a proibição. Partem da análise do discurso de Foucault (1979, 2010, 2011), para compreender as relações entre discurso, sociedade, escola e literatura e problematizam, assim, a obra literária em cena e a sua inserção sócio-histórica. O artigo de Vanito Ianium Vieira Cá e Jussara Maria Rosa Mendes, O Silêncio dos Silenciados: a situação juslaboral de imigrantes senegaleses em Porto Alegre apresenta os resultados de pesquisa com imigrantes senegaleses. A principal constatação diz respeito a um significativo aumento do número de imigrantes vindos de outros países, que se deslocam,  sobretudo, em busca de melhores condições de trabalho e vida. Consoante análise, os imigrantes senegaleses chegam ao Brasil esperançosos por uma vida digna após enfrentar longas e exaustivas viagens à procura de trabalho. Para além das questões migratórias, o artigo quer dar visibilidade à realidade juslaboral desses sujeitos, principalmente na tomada de providencias mais efetivas em defesa de seu direito à proteção no trabalho.

    Por fim, esta edição apresenta ao público leitor cinco resumos das dissertações do Mestrado em Ciências Humanas da Universidade Santo Amaro (UNISA). Os três primeiros tratam da complexidade dos estudos e pesquisas sobre a temática da educação contemporânea. O primeiro, “Desafios da Inclusão: Alfabetização de Alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, da mestranda Aluana Xavier de Lima, repercute a importância da inclusão escolar para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em uma escola municipal da periferia de São Paulo. O estudo destaca a importância dessa iniciativa para o aprendizado das crianças atendidas e ainda oferece um diagnóstico das principais contribuições para a melhoria do ambiente escolar.  Em seguida, “A formação do pensamento e da linguagem: estudo interdisciplinar e comparativo das abordagens de Piaget e Vygotsky”, do Mestrando Walme de Oliveira Lima, oferece uma análise interdisciplinar e comparativa das abordagens de Piaget e Vygotsky quanto à formação do pensamento e da linguagem. O terceiro resumo, que aborda a temática da educação “Formação Continuada dos Professores na Rede Pública Municipal de São Paulo: Construção de Saberes Pedagógicos e Realidade Social”, de Andréia Mendes de oliveira, analisa a questão da formação continuada no sistema educacional do Município de São Paulo. Tem como interesse precípuo entender como se deu a construção de um currículo “emancipatório” na periferia de São Paulo, o qual contribuiu para formação continuada dos professores, notadamente no que tange à construção de seus saberes pedagógicos. Os dois últimos resumos desta edição reafirmam a natureza interdisciplinar de Veredas com estudos sobre a greve de 1917 e a evolução histórica do bairro de Santo Amaro. O quarto resumo, “A criminalização do Movimento operário na Primeira República: a repressão à Greve de 1917”, do mestrando Gabriel Marcelo Jordão Cirera, aborda a importância dessa greve para a organização e o fortalecimento do movimento operário na Primeira República. Verifica as implicações do Código Penal de 1890 para a vida dos trabalhadores e investiga suas conexões com a controversa Lei de Expulsão dos Estrangeiros, usada como pretexto para perseguir e criminalizar as lideranças do movimento grevista de 1917. O quinto resumo, “Urbanização, memória e identidade do largo 13 de maio em Santo Amaro”, da mestranda Francisca Maria Emília da Silva Pinto, investiga a formação do bairro de Santo Amaro e suas mutações ao longo do tempo. Faz um inventário detalhado de sua memória material e imaterial e daí retira as suas principais informações para problematizar as transformações urbanas de Santo Amaro; o Largo 13 de Maio é o ponto de referência privilegiado para as suas observações. Busca-se compreender as mudanças na paisagem urbana dessa região em todas as suas dimensões e os impactos dessas mudanças nos processos de formação e consolidação da identidade regional e cultural da população santamarense.   

    Desejamos, enfim, que os artigos e resumos desta edição fomentem o debate e contribuam para a formação de um pensamento crítico capaz de ampliar a nossa compreensão sobre as vicissitudes do tempo presente.

    Uma boa leitura a todos!

    Rafael Lopes de Sousa

    Editor

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 2 n. 3 (2019)

    A proposta interdisciplinar apresenta como principal vantagem a possibilidade de pensar e entender o mundo na sua totalidade. Ela promove uma verdadeira ampliação da visão dos fenômenos e acontecimentos, uma mundividência que derruba as barreiras das disciplinas, das áreas de conhecimento, das teorias enclausuradas em seus pequenos nichos de saber. Despreza preconceitos, invade territórios, cria caminhos. Neste novo número de Veredas – revista interdisciplinar de humanidades, muitos caminhos interdisciplinares serão postos – de Artes à Memória, de Política à Psicologia, de Direito à Educação.

    No artigo de abertura, temos a honra de apresentar para nosso público leitor o professor e pesquisador português Sérgio Guimarães de Sousa, da Universidade do Minho – Portugal. Em “A utopia dos realistas – sobre A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, de José Agualusa”, o autor analisa o texto, recentemente lançado,  desse importante escritor angolano, que cria uma sátira política com a intenção de nos revelar a força dos sonhos por trás de uma realidade dura e sem perspectivas de um povo subjugado pela ditadura. O sonho metaforizado funciona na narrativa como concretização dos ideais de liberdade, mas seu desfecho joga novamente os expectantes para a realidade como saídos de um delírio coletivo.

    Na sequência, Jussara Parada Amed, em seu artigo “Recepção das obras de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) na Primeira República”, apresenta-nos a escritora, que foi uma das primeiras mulheres brasileiras a se dedicar à educação e à literatura, demonstrando uma sensibilidade e refinamento incomuns nesse período histórico. Além de romancista, poetisa, autora de peças teatrais e de livros de literatura infantil, Júlia Lopes de Almeida também contribuiu para a discussão sobre educação no país em artigos jornalísticos. Uma das idealizadoras da Academia brasileira de letras, a autora deixou uma vasta obra que com maestria são analisadas neste artigo.

    O terceiro artigo, temos um texto sobre o ícone de Santo Amaro – a estátua de Borba Gato. Márcia Maria da Graça Costa e Alzira Lobo de Arruda Campos, em “A estátua de Borba Gato: memória e identidade de Santo Amaro”,apresenta uma reflexão sobre a memória histórica do monumento e a identidade de um bairro. A complexa relação entre passado e presente descortina-se por meio da análise do simbolismo do patrimônio histórico-cultural.

    Em “Avaliação psicológica nos processos de alienação parental”, de Denise Maria Perissini da Silva, temos o estudo dos aspectos da avaliação psicológica em casos de alienação parental e a delicada posição do psicólogo frente às dificuldades impostas por um sistema falho que leva à alienação e à inevitávelinvisibilidade desses sujeitos nos processos judiciais. A história da lepra e as práticas de cura desse mal no município de Bragança (PA) no início do século XX é o assunto do quinto artigo. Fazendo uso de jornais e documentos oficiais do Arquivo público municipal dessa cidade, os autores vão desvendando gradativamente os costumes, a ideologia higienista e a procura de cura dessa doença tão carregada de conotação negativa.

    “Sobre óleos, sabonetes e asilos: história do combate à lepra em Bragança (PA) no início do século”, de Érico Silva Muniz e Patrícia Oliveira Linhares, além da crítica de costumes, apresenta os recursos medicinais embasados em práticas de isolamento dos doentes em asilos e a utilização de plantas e ervas da região amazônica.

    O sexto artigo do número 3 da Revista Veredas é de autoria Ilzver de Matos Oliveira, Alberto Hora Mendonça Filho e Pedro Meneses Feitosa Neto. “Ensino religioso confessional: política pública contra a intolerância religiosa? Dissonâncias entre a constituição cidadã e o Supremo Tribunal Federal”. A história das religiões, segundo os autores, entremeia a vida humana na terra e foi permeada por conflitos dos quais resultam discriminações e dominações. Em vista a isso, o secularismo marcou a cisão entre o Estado e a Igreja, com o intuito de assegurar, ainda que formalmente, a laicidade, de modo a alocar a religião no âmbito privado. Entretanto, segundo os autores, a secularização não obteve o êxito material, na medida em que se avista a interferência das religiões majoritárias no mundo moderno, o que é preocupante, sobretudo em virtude dos efeitos nocivos do fundamentalismo no mundo moderno.

     Juliana de Almeida Martins Goiz é a autora do sétimo artigo de Veredas. Em seu “A educação para as relações étnico raciais sob a perspectiva da interdisciplinaridade”, ela discute a importância da Lei 10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura da África e dos afro-brasileiros no ensino público e privado, e do trabalho interdisciplinar que esse tema requer. Num país plural, como o caso do Brasil, esse é um debate imprescindível e urgente, para o entendimento de nossa realidade e identidade como povo e como nação. Assunto premente e necessário, a questão da mulher e de seu papel na sociedade iniciou-se no século XIX, e continua em pauta.

    Isabela Candeloro Campoi e Bruna Letícia da Silva Massuia, autoras de “A educação feminina no livro A vindication of the right of woman, de Mary Wollstonecraft (1792)”, fazem um interessante debate sobre a educação de mulheres, nesta que foi uma das principais obras em defesa dos direitos da mulher de sua época, a ponto de sua autora ser considerada fundadora do feminismo moderno. Expondo com elegância e coragem seu ponto de vista e mundividência, a escritora põe a nu as dificuldades e o descaso pela educação feminina, num mundo totalmente dominado pelo homem. O texto ainda se presta à discussão dos problemas contemporâneos relacionados à questão de gênero. Esperamos que o leitor desfrute dessas discussões e tenha bons momentos de reflexão.

    Equipe editorial

    Rafael Lopes de Sousa

    Paulo Fernando Souza Campos

    Eliane de Alcântara Teixeira

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 1 n. 2 (2018)

    Ao encerrar sua edição de 2018, a revista Veredas lança seu segundo número, contando com oito artigos que propiciam debates interdisciplinares nas diferentes áreas das Ciências Humanas. Os trabalhos tratam de diversos aspectos da chamada, que convida para a reflexão sobre as rupturas e revoluções no século XX. Produzidos por pesquisadores e pesquisadoras do Brasil, os artigos ora apresentados permitem considerar que as vicissitudes deste processo importam significativamente, pois redimensionam o social.

    • No artigo de abertura, “A ordem tem seus perigos: a crise da política e o papel dos intelectuais nas reportagens iranianas de Michel Foucault”, Mauricio Pelegrini realiza uma análise da experiência vivida por ocasião de sua viagem ao Irã, durante os meses mais agudos da Revolução de 1978 que terminaria por depor a ditadura do xá Reza Pahlavi. O artigo ressalta o conceito de vontade coletiva como fundamental para a interpretação foucaultiana da crise política que então se instalava naquele país e a reverberação desse acontecimento no mundo ocidental.
    • No segundo artigo, Tony Hara apresenta a história de uma amizade criativa entre dois músicos de formação bem diferente, mas que se aventuraram lado a lado na busca por uma linguagem musical própria, autoral e de ruptura com a tradição. O texto convida os leitores para uma viagem entre a ficção e a história e assim propõe um encontro entre o rigor e o suingue que mexeu com a história da música brasileira de um jeito diferente na década de 1980.
    • Em “Arqueologia, Política e Ideologia: Arqueologia Marxista na Itália pós Segunda Guerra Mundial” Juliana Figueira da Hora, Rafael Lopes de Sousa e Vagner Carvalheiro Porto concentram-se em inventariar a trajetória da chamada "escola romana" de arqueologia. Analisam, assim, a influência das ideologias comunistas e marxistas no desenvolvimento da disciplina e destacam diversos arqueólogos proeminentes e carismáticos, dentre eles Bianchi Bandinelli, Renato Peroni e Andrea Carandini e a força inovadora e revolucionária que essas personalidades legaram à arqueologia italiana.
    • No artigo “Presença de Geleia Geral na História da Música Popular Brasileira”, Carlos Bauer apresenta-nos uma análise original da canção de Gilberto Gil e Torquato Neto. O autor destaca a forma atípica dessa canção para o padrão da música popular à época. A cena social, a irreverência dos comportamentos revolucionários, feitas de críticas mordazes, no afã de refletir sobre as possibilidades de mobilidade social, as angústias, as incertezas que marcam os períodos convulsivos e povoados de desastres experimentados pela sociedade brasileira da segunda metade do século XX, delineiam a construção do artigo.
    • Já em “Liberdade, Religiosidade e Gênio: Romantismo e História na Dramaturgia de Gonçalves de Magalhães”, Flavio Botton disseca as temáticas da comediografia desse poeta e conclui que, apesar de ter nascido no Brasil, não há nada de muito brasileiro nem na vida social nem no enredo de sua obra. O artigo esmiúça a vida desse personagem histórico que viveu no século XVIII. Busca compreender os três grandes pilares românticos que sustentam a peça de Magalhães: a liberdade (expressa no desejo do comediógrafo), a religiosidade (discutida por Frei Gil) e o gênio (princípio e finalidade da criação artística e da própria vida do sujeito único romântico).
    • No artigo “Patrimônio cultural imaterial indígena no mundo contemporâneo: turismo, consumo e mediações”, Priscila Enrique de Oliveira, por sua vez, historiciza as preocupações mais recentes com os registros do que se considera patrimônio imaterial. Destaca em sua análise que a ampliação de diálogos entre o turismo cultural e as comunidades locais fortaleceu a memória afetiva do homem com seu meio. Defende, assim, uma identidade local em que o passado e o presente, o novo e o antigo desencadeiam um processo de reelaboração constante da cultura, mediada por uma gestão pública democrática, participativa e horizontalizada.
    • Já o trabalho “Literatura e Outras Artes, Uma Contribuição à Discussão” de Anélia Montechiari Pietrani oferece uma reflexão sobre a leitura e o estudo do texto literário a partir da interface da literatura com outras manifestações artísticas. Sugere encaminhamentos teóricos e práticos a serem desenvolvidos nas aulas de literatura. Sobre essa questão, três aspectos serão abordados mais detalhadamente pela autora: o diálogo entre a literatura e outras artes; a recriação do texto literário em outras produções artísticas e a seleção e combinação de elementos de outras formas artísticas como constituintes imanentes ao texto literário.
    • Fechamos essa edição com o trabalho de Alzira Lobo de Arruda Campos, “Elites e Poder no Segundo Reinado (A Visão transmitida pelo primeiro volume da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)”. Suas reflexões concentraram-se em descortinar a trajetória da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro como um dos mais importantes lugares da memória sobre o pensamento da elite nacional. A autora deixa entrever que, para além da preservação da memória, o IHGB contribuiu também para formação de uma vida cultural mais ampla e mais efetiva no Brasil oitocentista. A discussão sobre memória e cultura perpassa, pois, todo o artigo e aponta para o contexto da crise que atingiu o modus operandi do Estado-nação da monarquia constitucional brasileira. O texto defende, assim, que Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é um lugar de memória, mas funcionou também, sobretudo no Segundo Reinado, como centro de estudos dos círculos do poder para formular representações e mitologias nacionais por meio de uma intelligentzia orgânica da nação formada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

    Desejamos aos nossos leitores uma ótima leitura e excelentes reflexões!

  • Veredas - Revista Interdisciplinar de Humanidades
    v. 1 n. 1 (2018)

    No primeiro número, Veredas apresenta um Dossiê temático sobre o samba. A proposta é de reunir artigos de pesquisadores que trabalham a diversidade cultural, étnica e musical da matriz africana, que se encontram disseminadas nas paisagens urbanas da sociedade brasileira. Os textos selecionados para compor o dossiê tratam de vários aspectos e de diferentes formas de pesquisa e de se pensar o samba como gênero musical que, grosso modo, pode ser entendido como um dos componentes da identidade nacional.  Nesta oportunidade, externamos nossos agradecimentos aos colaboradores desta primeira edição que, com profundidade e pertinência, apresentam importantes reflexões direcionando-nos a novos desafios, horizontes